terça-feira, 1 de outubro de 2013

Clitóris, a anatomia do prazer

Batizado como a “pequena colina”, significado grego da palavra clitóris, por mais de dois mil anos a ciência médica falhou com a anatomia das mulheres. O clitóris só foi redescoberto em 2005, por uma urologista australiana, a Dra. Helen O’Connell.

Através de dissecções, imagens de ressonância magnética e estudos de tecidos e imunologia, a médica descobriu que o clitóris vivo é maior do que imaginou. O clitóris rivaliza com o tamanho do pênis. E não é à toa; ambos os órgãos se formam das mesmas células, durante o desenvolvimento intrauterino do feto.
“Não existe nada parecido com a forma de um clitóris. As glândulas são cheias de nervos e receptores, toda a vibração e sensação está lá”, diz a médica e pesquisadora. O órgão do prazer feminino tem a forma de uma pirâmide, sua base é do lado de fora, onde está a vulva, suas paredes se enredam em torno da uretra e das paredes vaginais.



A glande, aquela massa circular redonda que chamamos de clitóris, é só o pedaço visível da estrutura feminina. Ela se liga a dois corpos cavernosos, que, excitados, cercam a vagina, como se a abraçassem – os crura. Em descanso, se estendem em até 9 centímetros, até o começo das coxas, e quando excitados se movem em direção ao centro do órgão. Perto de cada um existem os vestíbulos clitoriais, que ficam sob os grandes lábios. Quando excitados, eles fazem a vulva se expandir e abrir.



Resultado: muito do que se fala sobre a sexualidade das mulheres não tem nenhuma base anatômica ou científica. Para completar, a nossa educação sexual – quando existe – é toda baseada em reprodução. E o clitóris, nosso órgão esquecido, foi feito apenas para termos prazer.

Repetindo: o clitóris é o órgão de prazer feminino. Então esqueça a questão de orgasmo vaginal versus orgasmo clitoriano. O orgasmo feminino é muito mais complexo que clitóris ou vagina. Ele envolve um complexo de nervos, músculos, tecidos, reflexos e estado mental. Algumas podem alcança-lo simplesmente com seus músculos pélvicos.

Em seu estudo, publicado em 2005, a Dra. O’Connell escreve: “A anatomia do clitóris não é estável como se esperava. Seu estudo foi dominado por fatores sociais. Alguns livros de anatomia, inclusive, excluem a descrição do clitóris, enquanto dedicam muitas páginas ao pênis”. E tem mais: é impossível entender o clitóris com apenas um desenho. Para perceber e entender seu funcionamento são necessários vários desenhos.

Foi só em 2009 que o mundo teve, por conta da pesquisa dos franceses Dr. Odile Buisson e Dr. Pirre Foldès, o primeiro ultrassom 3D de um clitóris excitado. Graças a este estudo é possível entender como o tecido envolve a vagina – e explica que o que se chamou de orgasmo vaginal é, na verdade, clitoriano.
O Dr. Foldès diz: “A literatura médica conta a verdade sobre o desprezo pelas mulheres. Por três séculos, há milhares de referências à cirurgia peniana e nada sobre o clitóris, a não ser por câncer ou questões dermatológicas. Nada para recuperar sua sensibilidade. A existência de um órgão do prazer é, inclusive, negada pelos médicos. Hoje, se você olhar os livros de anatomia, existem duas páginas sobre isso. É uma verdadeira excisão intelectual”.

Então aí está. Não basta a repressão, a questão dos papeis culturais, a culpa, o medo de ser quem somos em público, também temos a medicina nos deixando no escuro. Graças a pesquisadores como o Dr. Buisson, Dr. Foldès e Dra. O’Connell, temos mais conhecimento sobre o organismo feminino – e mais prazer, também, porque não?

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