quarta-feira, 30 de outubro de 2013

As mulheres sentem falta de romance

Ivan Martins, autor do livro “Alguém especial”, fala sobre relacionamentos



Mulheres, homens, jovens, adultos, não importam as diferenças… Quando se trata de relacionamentos amorosos, as questões parecem ser mesmo universais. E algumas dessas questões são abordadas de forma sensível e inteligente nos textos do jornalista Ivan Martins, agora reunidos no livro “Alguém especial – crônicas de amor, sexo e outras fatalidades”(Editora Benvirá).

Em entrevista exclusiva ao Bolsa de Mulher, o autor fala sobre os principais motivos que levam os casais ao desentendimento e as principais mudanças de comportamento de homens e mulheres.

Você é considerado pelas mulheres um homem que as compreende. Em geral, acha que é isso que as elas sentem falta nos homens?

Minha mulher não acha que eu sou um homem que compreende… Mas eu acho que, de alguma forma, incorporei parte do ponto de vista feminino em questões importantes. Me parece, sim, que algumas mulheres sentem falta de cumplicidade nos seus homens. Quantas, porém, gostariam de ter ao lado um cara que ecoasse os seus problemas, em vez de limitá-los pela diferença e até pela incompreensão? Não muitas, eu acho. Em suma, existe espaço para um outro tipo de homem e um outro tipo de relação entre homens e mulheres, mas nem todo mundo está interessado.

Por que os homens não gostam de discutir a relação? Como deve ser a abordagem das mulheres nesses momentos?

Os homens que eu conheço melhor, adoram discutir a relação. Não gostam de ser cobrados ou postos contra a parede, o que é outra coisa. Quando se trata de relacionamentos, os homens são mais fracos em tomar decisões. Muitos tendem a empurrar com a barriga e transferir para as parceiras a responsabilidade pelos grandes movimentos da relação. Daí certa tendência a evitar as conversas sérias. Mas há um outro tipo de dificuldade: muita gente entre nós – homens e mulheres – não tem paciência para ‘mi-mi-mi’. Logo, se você é dengosa e/ou insegura, escolha um parceiro que dê o ombro e curta uma conversa demorada e… frequente. Não acho que dê para ensinar um macho impaciente a lidar com esse tipo de sentimento.

Qual o principal erro que as mulheres cometem em relacionamentos? E os homens?
As mulheres muitas vezes viram mães de seus homens. Isso é um erro medonho. Há aspectos maternais e paternais em todas as relações, mas se eles se tornarem dominantes, o tesão vai embora e aflora o ressentimento. Os homens, por sua vez, tendem a tomar o amor da mulher como uma coisa assegurada, permanente, e passam, sem perceber, a dar menos valor ao sentimento e à pessoa. Assim podem acabar perdendo. O principal conflito masculino é a monogamia, ou, posto de outra forma, a impossibilidade de reafirmar sua própria capacidade de sedução. As mulheres, me parece, sentem falta de romance. Adoram estar numa relação estável, mas adorariam sentir de novo aquele frio na barriga. Dá para perceber que estamos falando da mesma coisa, né? As linguagens é que são diferentes.

É comum ouvirmos que as mulheres mudaram muito e que isso está deixando os homens perdidos, sem saber como agir. Você concorda?

Acho que ela mistifica a situação. As mudanças na vida e no comportamento das mulheresnão se deram de uma hora para outra. Ninguém acordou de repente num mundo em que as mulheres tinham poder de decidir sobre si mesmas. Quero dizer com isso que os homens convivem com essas mudanças há muito tempo e estão acostumados a elas. Alguns não gostam, mas isso é outra história. Reacionários e conservadores gostariam de continuar a ter poder sobre as mulheres. E homens mais velhos às vezes se ressentem do comportamento sexualmente mais pragmáticos das meninas, que lembra muito o comportamento deles. Mas, dito isso, não vejo homens de 20 ou 30 anos fazendo comentários queixosos sobre as garotas da idade deles. Essencialmente, eles compartilham os mesmos valores.

O que você diz nos seus textos é baseado em histórias pessoais que você viveu ou presenciou, ou os leitores também te enviam sugestões de temas?

Minha fonte primária sou eu e a minha capacidade de observar. A fonte secundária são as pessoas ao meu redor, o que elas fazem e contam. Sugestões vêm em terceiro lugar na lista de inspirações, mas são importantes. Eu evito usá-las em demasia para não fazer da coluna um consultório sentimental ou uma zona de eco dos sentimentos dos leitores. Minha proposta é surpreendê-los com temas, idéias e sentimentos que eu acho por aí. Acho que as minhas idiossincrasias tornam  os textos mais interessantes. E mais úteis.

O sucesso dos seus textos mostra que, de certa forma, as questões sobre relacionamentos são universais?

Comecei a escrever sobre relacionamentos porque era um assunto importante para mim e para os meus amigos e amigas. O crescimento do número de leitores sugere que talvez seja importante para muito mais gente. Acho que é uma consequência dos tempos. As pessoas estão vivendo muitos relacionamentos ao longo da vida. O romance, a frustração amorosa, a procura pelo parceiro ideal – que antes acabavam com o casamento – agora tendem a se prolongar pelo resto da vida. Isso torna as conversas sobre relacionamento algo de interesse permanente, eu acho.

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